Israel Kislansky: a arte como ficção.

"Arte é o fenômeno cultural que conta como vivemos a realidade." 
Assisti à palestra do fantástico escultor, pintor e desenhista baiano radicado em São Paulo, Israel Kislansky, no Atelier de Cerâmica Katia Schames.
Figura doce, serena, voz mansa, nem parece que esculpe mulheres gigantescas, um verdadeiro mestre, um impressionante sábio.
Considerado entre os maiores escultores em cerâmica e fundição do Brasil, não se vê nele um pingo de arrogância. É um igual, ali, contando pra gente, com seu amoroso timbre rouco, o que aprendeu em sua caminhada.
E ao dar uma aula magnífica sobre a História da Arte através da escultura, vai tecendo a tessitura doida da história dos homens que buscam, cavam, brigam, destroem, começam de novo, em seu eterno ciclo e reciclo de construir e destruir.
Aos poucos a gente vai-se dando conta de que a arte é sempre registro dessa luta, traduz em si o que vige na página da Historia onde foi esculpida. Não necessariamente evolução, mas registro.
Então, ele começa contando da escultura rígida, arcaica e vai desenrolando o corpo, do sagrado representando deuses, até a assumpção total de cada veia, músculo, carne dessacralizada. Pra depois, cataploft! Começar tudo de novo em surpreendente arcaismo de mais uma vez a arte retratando rigidez e ausência de carnaduras, reflexos da sociedade onde se criou, bem como aliás apontam os estudiosos de Birmingham, dos Estudos Culturais. De que a arte é concretamente o que naquele momento a sociedade deglute.
" A arte é a necessidade de experimentar outra realidade."
Quando chega em Roma, ele conta que a estatutária romana inventa o retrato.Quando chega em Rodin, ele avisa: -aqui o homem começa a conversar consigo mesmo. E se vai.
Para Israel Kislansky, que homenageia o seu mestre J. A. Van Acker, ARTE É FICÇAO, o lugar da invenção, da expressão, da criatividade. O lugar onde o homem reescreve o seu percurso, ficcionado. "Arte é o fenômeno cultural que conta como vivemos a realidade." - diz ele. A criança, por exemplo, vive todo tempo em um ficcional inventado por ela. Quando cresce, vai viver a ficção na arte: no cinema, na música, na literatura.
A vida representada pela arte poderia se resumir em três pontos - explica ele: ponto de interrogação, de exclamação, ponto final. De interrogação, a arte que questiona, pergunta; de exclamação, a arte que exubera, se exclama, e ponto final, a arte que simplesmente mostra o fato objetivo, sem grandes manifestações. ( Claro que eu me identifiquei com exclamação e interrogação! )
Kislansky entende que a arte tem também a função de organizar. E explica: " a arte é organizadora, porque há muito de inexplicável na vida, e a arte faz sentido, então, organizando o caos".
Para concluir, ele reforça o lado emocional da arte - contrariando os racionais arte-conceitualistas que rejeitam a emoção - e é categórico: " a arte é a necessidade de experimentar outra realidade, outra experiência emocional". A-mei! Obrigada, Katia Schames, por nos proporcionar esse privilégio!
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Arte ou bla-bla-blá?

O impagável Tom Wolfe, eterno mestre do New Journalism, em seu livro A PALAVRA PINTADA (Rocco, 1975), descreve com ironia e fatos e nomes a derrocada fatal da pintura no século XX.

Para Wolfe, por graça e ação de três críticos de arte americanos, Greenberg, Rosenberg e Steinberg, a pintura terminou cedendo seu lugar à Teoria, que acabou por se tornar - ela própria, a Palavra - mais importante, mais Arte que a própria Arte. A tal Palavra Pintada que dá nome ao livro.

No decorrer da leitura, o autor percorre os vários movimentos da arte nos Estados Unidos, em uma ação paralela que vai banindo da tela detalhe por detalhe, tudo o que se refere à pintura dos séculos anteriores, até fazer desaparecer, por fim, a própria tela e a própria pintura, com " o solvente universal da Palavra".

E nesse apanhado, ele repassa as palavras de ordem que comandaram esse desmonte da arte, como "superfície plana e fuliginosa", "arte de ação", " toda arte versa sobre arte" e " toda obra profundamente original parece feia a princípio" etc.

Quando o movimento da arte chega à etapa chamada Minimalismo, Wolfe joga a toalha e, na página 117, reconhece a derrota:
" E, finalmente, ali estava! Nada de realismo, nada de representação de objetos, nada de linhas, cores, formas e contornos, nada de pigmentos, nada de pinceladas, nada de evocações, nada de molduras, paredes, galerias, museus, nada de se torturar diante da face angustiada da deusa da superfície plana, nada de plateia, apenas um 'recebedor', que pode ou não ser uma pessoa, ou pode ou não estar presente, nada de ego projetado, apenas ' o artista', na terceira pessoa, que pode ser qualquer um ou ninguém, pois nada se exige dele, nadinha, nem mesmo que exista, pois isso se perdeu no modo subjuntivo - e naquele momento de abdicação absolutamente desapaixonada, de desaparecimento desinteressado, a Arte fez o seu voo final (...) e saiu pelo outro lado sob a forma de Teoria da Arte".


E foi assim que a arte virou blá-blá-blá. ( Graca Craidy)
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